quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Roald Dahl e sua grande literatura pra gente pequena

Roald Dahl é um dos meus escritores preferidos. Sabe aquelas pessoas que você tem vontade de conhecer? De sentar pra tomar um suco e jogar conversa fora? Então, Roald está na minha lista há muito tempo, ao lado de Harry Potter, Jane Austen, Elizabeth Bennet, Gandhalf... Esse escritor inglês, criador de histórias maravilhosas, como Os Gremlins, A Fantástica Fábrica de Chocolates e Matilda, é minha principal aposta quando preciso conquistar algum jovem leitor. Em meu primeiro ano como bibliotecária escolar tinha altas discussões sobre bruxas, diretoras terríveis e seres pequeninos com um exigente leitor de 7 anos, que já tinha lido quase tudo e esperava ansioso a compra de Charlie e o grande elevador de vidro.



Tiago foi introduzido nesse universo fantástico com o filme Matilda (que é uma graça, não  é mesmo?), mas sua estreia literária foi com o assustador e horripilante As Bruxas.

O livro conta a história da luta de um garotinho e sua avó contra a terrível Grã-Bruxa. Mas é também a história da delicada relação de amor, companheirismo e amizade entre uma avó e seu neto. Isso sem falar que é uma história de superação e de coragem. Após meses aprendendo tudo sobre as "bruxas de verdade" e suas maldades contra crianças, nosso herói, junto com sua avó, vai passar férias num balneário inglês, onde está acontecendo uma séria convenção em prol das crianças. Tarde demais eles descobrem que essa é a fachada para o encontro anual de TODAS as bruxas da Inglaterra, e que elas tem um plano maligno para acabar com todas as crianças da Inglaterra. Só eles podem impedir a catástrofe! É suspense em todas as páginas!
"Nos contos de fadas, as bruxas sempre usam umas capas e uns chapéus pretos ridículos, e voam em cabos de vassouras.
Mas esta história não é um conto de fados. Esta é uma história de BRUXAS DE VERDADE. 
Há uma coisa muito importante que vocês precisam saber sobre BRUXAS DE VERDADE. Prestem muita atenção, e nunca se esqueçam do seguinte: 

BRUXAS DE VERDADE usam roupas comuns, e parecem mulheres comuns. Elas moram em casas como as nossas e trabalham em PROFISSÕES COMUNS." 
Com esse começo assustador conseguimos capturar a atenção, os órgãos e os sentidos do Tiago. No começo ele ficou com bastante medo, a ponto de pedir para dormir com a luz acesa. Mas sempre que falávamos em parar e escolher outro livro ele dizia não: meu filhote já estava fisgado! Foram meses ouvindo falar sobre bruxas e seus planos diabólicos. Às vezes Tiago chegava em casa bravo com as professoras, que diziam que bruxas não existem. Outras vezes ele me perguntava se Fulana ou Sicrana eram bruxas de verdade. O engraçado é que a pergunta era sempre sobre alguém que ele gosta muito, como nossa tia Toninha ou nossa amiga Zezé. O importante é que ao longo da leitura ele foi estabelecendo relações e se encantando com a história, dia após dia.

Uma coisa que adoro nos livros do Dahl é que ele tem uma lógica toda dele, que vai contra esse mundo politicamente correto que vivemos. Por exemplo, n'As Bruxas, a melhor maneira de uma criança enganar uma bruxa é não tomar banho, já que crianças limpas tem um cheiro horrível de cocô de cachorro! Imagina a cara sapeca do Tiago tentando me convencer a não tomar banho? Não existe aula melhor de argumentação! O final desse livro também pode ser considerado politicamente incorreto, mas para mim é brilhante! Tão na contra-mão desse mundinho careta! Mas a verdade é que Tiago ficou surpreso e um pouquinho frustrado - apesar de não assumir. Nada que atrapalhasse sua paixão pela história. Tanto é que quando descobriu que havia um filme do livro não sossegou até assistir.

O filme deve ser conhecido de alguns de vocês, já que foi um grande frequentador da Sessão da Tarde. Chama-se Convenção das Bruxas e tem como Grã-Bruxa a espetacular Anjelica Houston. Só encontramos uma cópia legendada na 2001, que ele assistiu feliz. E quase chorou quando descobriu que o final do filme era exatamente como ele queria!


Tiago pediu para pintar as ilustrações (minha edição tem figuras lindas da Claudia Scatamacchia) e quer guardar meu livrinho na sua estante. Já avisou que vai querer ler de novo, um dia. Assim como me pediu para procurar uma cópia do filme em português na internet. Pelo jeito ele já aprendeu que os clássicos são assim: precisamos revisitá-los de tempos em tempos para matar a saudade, fazer novas leituras e descobrir tesouros escondidos. 

        


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Histórias de capítulos

Há algum tempo decidimos introduzir o Tiago nas maravilhas das histórias de capítulos. Queríamos trabalhar questões como respeito aos colegas e concentração. Não imaginávamos a alegria e a camaradagem que esses momentos nos trariam... Fizemos algumas tentativas. O Pequeno Príncipe e O Menino do Dedo Verde, apesar de clássicos, não empolgaram nada. Resolvi então tentar uma coleção que li quando criança e que sempre gostei muito: O Cachorrinho Samba. São vários livros repletos de aventura, amizade, descobertas: ingredientes certeiros prender o leitor.
   
Começamos com A Mina de Ouro e de cara percebemos o envolvimento do Tiago com a estória. Dia após dia, após o jantar, adentrávamos a mina e sofríamos com as crianças fome, sede, desespero em busca de uma saída. A leitura fez tanto sucesso que quando terminamos, ele pediu outra aventura com Cecília, Vera, Henrique, Eduardo, Quico e Oscar. Escolhi então A montanha encantada, minha segunda estória favorita da coleção (a favoritíssima é A Ilha Perdida, primeiro livro da Série Vaga-lume que eu li). Mais uma vez, o pequeno ouvinte foi fisgado pela trama. Ao término, Tiago insistiu em continuar com a coleção, e escolhemos O Cachorrinho Samba.

Confesso que fiquei com medo dele resolver querer um cachorrinho de estimação. O pedido pelo bichinho não veio, mas percebemos como ele ficou emocionado com as desventuras do cãozinho. Ficamos surpresos ao perceber como ele prestava atenção na estória. Ele lembrava de detalhes da trama nos momentos mais inesperados: tomando café, no parque, na casa da avó... Foram semanas envolvidos nesse universo canino. O difícil era fazer a leitura de apenas um capítulo por dia. Sempre ouvíamos o pedido: "mamãe, lê mais um capítulo, só unzinho!". Como resistir? 

Escolher um substituto foi uma tarefa árdua, mas a escolha foi um sucesso. As Bruxas é tão maravilhoso que merece um post só pra ele (leiam na próxima semana!)

Há muitos livros na nossa lista de desejos, além dos clássicos adaptados (penso em começar pela Odisséia - adaptado pela Ruth Rocha). O bacana é envolver o pequeno na escolha. A certeza de que é capaz de ouvir "um dos livros da mamãe" encanta e faz com que ele se sinta importante. Há autores brasileiros e estrangeiros, estórias de aventura, medo, amizade e de riso. Livros com personagens masculinos, femininos. Estórias de bichos, de reis e de bruxas. É um verdadeiro balaio!!! 

      


* Texto republicado com poucas atualizações. Leitura de capítulos do momento: Harry Potter e a Câmara Secreta. 


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Leitura com os pequenininhos

Sempre ouço por aí, em meus bate-papos literários, discussões sobre o que ler para bebês e crianças bem pequenas. Até conheço um ou outro projeto de leitura para os bem pequeninos: a biblioteca Monteiro Lobato tem um projeto bem bacana, e a FESP tem um curso de extensão sobre o tema, comandado pela excelente Nádia Hommerding, mas nunca trabalhei com isso, nem estudei o assunto. O que faço, desde sempre, desde quando Tiago era um carocinho de feijão, é ler o que eu gosto, o que me instiga e emociona.

Grávida, costumava ler em voz alta um pouco de tudo. Li muita poesia infantil (José Paulo Paes, Cecília Meireles, Vinícius...), muito contos de fadas (e esses, meus queridos, é leitura pra vida toda! Como diz uma amiga contadora de histórias, os contos de fadas são para a alma o que o aleitamento materno é para o corpo)! Também cantava muita música pra ele.

        
Mais tarde, com o Tiago recém nascido, fui relendo esses textos, cantando essas músicas e tentando perceber do que ele mais gostava. Nosso repertório era (e é) bastante variado. Audrey Wood, contos de fadas, Julia Donaldson, Cecília Meireles, Vinícus, Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Eva Furnari... E as cantigas continuaram. Último pau-de-arara era nossa companheira durante a amamentação e Dia branco nossa canção de ninar...  

Conforme ele foi crescendo, fui me preocupando também com os recursos visuais dos livros: os livros brinquedos, pop-up, os grandes ilustradores, enfim, aqueles livrinhos que vão dar pano pra manga! Entre os interativos, meus preferidos são os da Brinque-Book e da Companhia das Letrinhas – se bem que os livros da Ninoca (editora Ática) são um primor. Os livros de banho e aqueles de pano também fazem muito sucesso. Tiago tem até hoje um livrinho de banho que ganhou da amiga Iara. E agora ele lê durante o banho e não quer saber de dar fim no bichinho, que já passou dessa pra melhor faz tempo.
  
Editado aqui no Brasil pela Companhia das Letrinhas, os livros do Keith Faulkner são um achado, sempre provocando gargalhadas ou olhos arregalados nos bebês. Uma vez dei O Ursinho Apavorado para o filhinho de cinco meses de uma amiga (É, sou dessas pessoas que costuma dar livros para papais e mamães de primeira viagem). Ela comentou depois que o pequeno Pedro gargalhava e tentava agarrar as dobraduras enquanto ela lia. Olha só que delícia!

Quando minha cunhada Mayany era bebê, dei, com toda a recomendação de leitura possível, um livrinho que amo de paixão: O Pote vazio. Ela tinha cerca de sete meses quando ouviu pela primeira vez. O exemplar foi sendo trocado ao longo dos anos, pois esse era um grande companheiro da criatura. E ela conseguia reconhecer o Ping em qualquer página do livro. Outra delícia!  
       
Alguns temas são caros aos pequeninos: medo do escuro, querer ficar acordado, soltar puns - de todos os tipos, como ou quando nasceu (Na noite em que você nasceu..., presente da Elisângela quando o Tiago nasceu, é emocionante!). Enfim, são muitas as possibilidades, basta ter um pouquinho de vontade de ler, porque leitura sem vontade não engana ninguém.

Vou listar alguns (só alguns) dos meus títulos ou autores preferidos, lembrando que pra mim, essa divisão por faixa etária é praticamente inexistente. São livrinhos que fazem bem pra minha alma e que sempre vão aparecer por aqui, porque num momento ou outro da vida eu ou o Tiago escolhemos um deles: para saborear, para encantar, para se emocionar. Ou mesmo para passar um pouquinho o tempo. Sozinhos, juntos ou acompanhados de outros amigos.
  • Sam McBratney – Adivinha quanto eu te amo 
  • Cecília Meireles – Ou isto ou aquilo. (O melhor de todos os tempos! Acabou de sair uma edição fantástica com ilustrações do fantástico Odilon Moraes. Já vi que vou ter o terceiro exemplar em breve...)
  • Milton Célio de Oliveira Filho – O caso da lagarta que tomou chá-de-sumiço...
  • Silvana Rando – Peppa, Gildo (ainda não li para o Tiago, mas são uma graça!)
  • Claudia Fries - Um porco vem morar aqui
  • Katryn Meyrick - Samanta gorducha vai ao baile das bruxas (ainda não li com o Tiago, mas se - ou quando - tiver uma menina, vou ter que ler várias vezes para ela. Amo!)
  • Dugald Steer - Só mais uma história (nossa paixão atual! O problema é que quando você pensa que acabou, vem o pedido de só mais uma história!)
  • Sean Taylor - Quando nasce um monstro (de longe, o livro predileto do Tiago) "Quando nasce um monstro, existem duas possibilidades..."
  • Dr. Seuss – O gatola da cartola, Ah, os lugares aonde você irá!...
  • Ana Maria Machado – Menina bonita do laço de fita (perfeito! Todo mundo tem que ler, tem que ter!), Fome danada, A velhinha maluquete...
  • Ruth Rocha – Coleção A turma da minha rua, Marcelo, marmelo, martelo, O amigo do rei...
  • Lalau e Laurabeatriz – Bem-te-vi e outras poesias, Zum-zum-zum e outras poesias!
  • Mem Fox – Guilherme Augusto Araújo Fernandes
  • Julia Donaldson - O Grúfalo, O filho do Grúfalo, Macaco danado...
"Um ratinho foi passear na floresta escura. A raposa viu o ratinho e o achou apetitoso.- Aonde você vai? Perguntou a raposa com brandura – Venha almoçar comigo, faço um almoço gostoso. - Quanta gentileza raposa, mas não posso aceitar, já marquei com o Grúfalo para almoçar.- Um Grúfalo? O que é um Grúfalo?- Você não conhece? Um Grúfalo! Ele tem presas incríveis e garras terríveis. E em sua boca, dentes horríveis.”


                

sábado, 2 de novembro de 2013

A casa onde todos viviam dormindo e outras gostosuras

O que faz um livro encantar uma criança? As imagens? O texto? O ritmo? Os livros escritos e ilustrados por Audrey e Don Wood se encaixam em qualquer que seja a resposta. Textos aparentemente simples, imagens que se casam perfeitamente à estória, seus livros estão entre os mais indicados para crianças pequenas. Nossos títulos preferidos são A casa sonolenta e A Bruxa Salomé.

N’A casa sonolenta todos viviam dormindo: a avó, o menino, o cachorro, o gato... As imagens escuras combinam com o tempo nublado e a cama convida à preguiça, como aqueles dias de inverno quando tudo o que queremos é dormir. Até que surge neste quarto aconchegante, dessa casa sonolenta, uma... pulga! Uma pulga acordada, numa casa sonolenta! Está feita a bagunça! Em ritmo alucinante uma pequena pulguinha vira de pernas para o ar a vida organizada e monótona dessa família. O sol, que aparece à janela, convida o leitor a brincar. Tiago costuma acompanhar a história atento e é uma delícia quando erro a ordem e coloco o rato antes do cachorro ou quando, de propósito, digo uma cama bagunçada numa casa acordada. Ele fica bravo e diz “Você não sabe, mamãe? É assim” e recita a estória direitinho.
A Bruxa Salomé conta as artimanhas da dita cuja contra uma pobre mãe e seus sete filhos: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo. A história é perfeita: tem suspense, tem aventura, tem tristeza e as famosas repetições que prendem o pequeno leitor. As ilustrações dão medo no encontro com a bruxa, emocionam com a dor da mãe e celebram o reencontro da família. Meu filho tem raiva da Salomé e sempre espera ansioso pelo momento em que a mamãe revela-se, soberana, para a bruxa. A ilustração desse trecho é impressionante: uma mãe altiva e uma bruxa pequenina de medo, diante da braveza da mulher.
Há muitos títulos bacanas, com os quais a criança ri, identifica-se, brinca. Os porquinhos, perfeitos para cócegas em bebês; o rei que está na banheira e não quer sair; o garoto que é rápido como um gafanhoto e lento como um caracol; o menino e sua palavra feia... Os Wood são desses autores que não podem faltar na primeira biblioteca do pequeno leitor. 

       

domingo, 27 de outubro de 2013

Lembro...

Lembro das estórias que minha mãe me contava na hora de dormir. Naquela época, eu só a via nos finais de semana, igual às meninas que viviam em internato nas estórias que eu leria bem mais tarde, e esse era de longe o momento mais esperado do dia. Minha mãe contava estórias de princesas sequestradas, presas em castelos perdidos nas terras do Oriente. E cantava umas musiquinhas, como se ela fosse ou já tivesse sido um dia uma triste princesa.

Lembro dos livros da minha mãe. Eu podia folhear sozinha Meu livro de histórias bíblicas! E as estórias que eu criava pras imagens que eu via sempre foram melhores que as histórias lidas por minha mãe ou por mim quando mais velha. Contrato de casamento -  foi o primeiro romance de mulherzinha que eu li, escondida de minha mãe.

Lembro do primeiro livro que li sozinha. Peguei na biblioteca da escola. Os perigos de Didi. Uma ratinha passeando sozinha pela floresta. Tenho flashs das imagens, do texto (que, acho eu, era todo em caixa alta) e da sensação boa de poder ler sozinha.

Lembro do Prof. Adalto lendo Pé de pilão, cada semana um pouquinho, nas aulas que eu mais amava, na sala de leitura. Eu esperava ansiosa pelas sextas-feiras, depois do recreio, pra ouvir as peripécias do pato e sua avó enfeitiçada. Foi com esse professor bravo, sisudo, que conheci Cinderela, Rapunzel, a menina bonita do laço de fita... Nesse lugar mágico eu podia ler o que quisesse: descobrir o jogo do contente; me emocionar com Lola e seus filhos Carlos, Isabel e Juninho; e pensar na triste vida das meninas da noite, do Dimenstein.
Lembro que desde pequenininha eu saía contando o que eu lia pras pessoas. Era como se eu quisesse contagiar o mundo com minha paixão...

Lembro quando comecei a pensar no que leria pro meu filho, quando (e se) eu tivesse um filho.

Lembro que chorei quando li pela primeira vez O pote vazio – uma das minhas primeiras escolhas pra biblioteca futura de um filho futuro.


Lembro de ler Tanto, tanto tantas vezes durante a gravidez... Ainda é uma das leituras preferidas do Tiago. Hoje ele passa as páginas e repete a história (que sabe de cor) pro seus filhinhos Gigi, Batidinha Grande, Batidinha Pequeno e Porquinha Rosa.

Hoje a gente lê toda noite antes de dormir (e desconfio que este seja um dos momentos prediletos do dia do meu pequeno, como é pra mim).