Lembro das estórias que minha mãe me contava na hora de
dormir. Naquela época, eu só a via nos finais de semana, igual às meninas que
viviam em internato nas estórias que eu leria bem mais tarde, e esse era de
longe o momento mais esperado do dia. Minha mãe contava estórias de princesas
sequestradas, presas em castelos perdidos nas terras do Oriente. E cantava umas
musiquinhas, como se ela fosse ou já tivesse sido um dia uma triste princesa.
Lembro dos livros da minha mãe. Eu podia folhear sozinha Meu livro de histórias bíblicas! E as
estórias que eu criava pras imagens que eu via sempre foram melhores que as
histórias lidas por minha mãe ou por mim quando mais velha. Contrato de casamento - foi o primeiro romance de mulherzinha que eu li, escondida de minha mãe.
Lembro do primeiro livro que li sozinha. Peguei na
biblioteca da escola. Os perigos de Didi.
Uma ratinha passeando sozinha pela floresta. Tenho flashs das imagens, do texto
(que, acho eu, era todo em caixa alta) e da sensação boa de poder ler sozinha.
Lembro do Prof. Adalto lendo Pé de pilão, cada semana um pouquinho, nas aulas que eu mais amava,
na sala de leitura. Eu esperava ansiosa pelas sextas-feiras, depois do recreio,
pra ouvir as peripécias do pato e sua avó enfeitiçada. Foi com esse professor bravo,
sisudo, que conheci Cinderela, Rapunzel, a menina bonita do laço de fita...
Nesse lugar mágico eu podia ler o que quisesse: descobrir o jogo do contente;
me emocionar com Lola e seus filhos Carlos, Isabel e Juninho; e pensar na triste
vida das meninas da noite, do Dimenstein.
Lembro que desde pequenininha eu saía contando o que eu lia
pras pessoas. Era como se eu quisesse contagiar o mundo com minha paixão...
Lembro quando comecei a pensar no que leria pro meu filho, quando
(e se) eu tivesse um filho.
Lembro que chorei quando li pela primeira vez O pote vazio – uma das minhas primeiras
escolhas pra biblioteca futura de um filho futuro.
Lembro de ler Tanto, tanto tantas vezes durante a gravidez... Ainda é uma das leituras
preferidas do Tiago. Hoje ele passa as páginas e repete a história (que sabe de
cor) pro seus filhinhos Gigi, Batidinha Grande, Batidinha Pequeno e Porquinha
Rosa.
Hoje a gente lê toda noite antes de dormir (e desconfio que este
seja um dos momentos prediletos do dia do meu pequeno, como é pra mim).